Mercearia na Feira de São Cristovão/Rj Fotos: Fernanda Lacerda e Hilda Armstrong
“Paraiba é meu Estado. Eu sou paraibana, com muito orgulho!”. No Rio de Janeiro todo nordestino é chamado de “paraíba”. E nem a Feira de Tradições Nordestinas escapa desse apelidinho. É comum ouvir alguém dizer que foi ou que vai à Feira dos paraíba. E como diria o radialista Mução: Aí dentu, Papai Noel!!! “Paraiba é meu Estado. Eu sou paraibana, com muito orgulho!”.
Eu gosto de ir lá, apesar de achar as coisas meio tumultuadas. Som alto – aliás, sons, porque é uma poluição sonora da mulesta-, gente circulando, vendedor ambulante atraindo a atenção das crianças com balões e bolas de sabão... e em frente aos restaurantes os garçons abordam quem passa com o cardápio na mão. Eu entrei em um deles atraída pela desenvoltura simpática de uma garçonete que disse as palavras mágicas: feijão de corda e carne de sol.
Parecia que tava em casa. Comi com os olhos. Comi com o paladar de quem morre de saudades das suas raízes, do sabor da comidinha de mainha e do cheiro da cozinha da casa de Tio Tavin. Pude até ver Maria servindo a mesa e dizendo: “Come danada. Mata quem tá te matando”. Ô saudade da mulesta! Comi que só a gota!
Saí satisfeira. Continuei andando e dei de cara com uma cena comum no Nordeste. Uma mercearia. Lembrei do poema “Parafuso de cabo de serrote” de Jessier Quirino* que descreve um lugar como aquele com uma riqueza de detalhes impressionante.
(...) “A Segunda vitrine é de pão doce
É tareco, siquilho e cocorote
Broa, solda, bolacha de pacote
Bolo fofo e jaú esfarofado
Um porrete serrado e lapidado
Faz o peso prum março de papel
Se embrulha de tudo a granel
E por dentro se encontra uma gaveta
Donde desembainha-se a caderneta
Do freguês pagador e mais fiel”. (...)
Interessante como as coisas são. Enchi a boca d’água ao ver aquelas coisas e lembrei que quando era criança tinha um abuso tão grande quando chegava a hora do lanche e eu dizia: - Mainha tô com fome. E ela dizia pra eu comer bulacha tareco e beber um suco de alguma fruta típica. Eu queria era tomar Coca-Cola, comer biscoito recheado, que mané tareco que nada.
Pia mermo, eu rejeitando minhas raízes naquele momento. Hoje eu lembro de mainha dizendo: - Vá bichinha, se amostre bem muito. A vida ensina! Um dia você vai aprender a dar valor as coisas. E apôis, e num é que o dia chegou!!!
* Jessier Quirino é paraibano e se define como arquiteto por profissão, poeta por vocação, matuto por convicção. Para conhecer o trabalho dele acesse: www.jessierquirino.com.br