quinta-feira, 30 de agosto de 2007

A arte de mau humor

Artistas de rua disputando espaço
Fotos: Fernanda Lacerda e Cláudia Sardinha


O Rio é uma cidade cheia de monumentos. Nas ruas, nas praças, no calçadão de Copacabana... Cada um marca um momento da história do país e homenageia seus personagens.

O interessante é que de repente a gente se surpreende com uma dessas estátuas... vivas. Perfeitas. Imóveis, porém, vivas.

Acho fantástico o trabalho desses caras. Eu paro, fico olhando e tentando imaginar o que os tiraria daquele pedestal. É como se fossem imunes a qualquer coisa. E por nada podem expressar sentimentos, reações.

Mas, eis que um dia dei de cara com essa cena. O “Sr. estátua”, mais que vivo, indignado porque teve sua área invadida por duas figuras.

Não chamei de estátua de propósito. São figuras mesmo, do tipo “caras de pau”. Improvisaram, invadiram a área do outro e chamaram a atenção de quem passava. Isso fez deles artistas, também. Fato que indignou o “Sr. estátua” e o fez descer do seu palco-pedestal.

Curioso como essas coisas acontecem e conseguem desestabilizar nossa essência. Estar vivo é estar sujeito a esse tipo de situação, sim. Mas, ser artista é saber improvisar diante dos imprevistos e continuar “encantando” os olhos de quem passa.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Feira de São Cristovão


Mercearia na Feira de São Cristovão/Rj
Fotos: Fernanda Lacerda e Hilda Armstrong

“Paraiba é meu Estado. Eu sou paraibana, com muito orgulho!”. No Rio de Janeiro todo nordestino é chamado de “paraíba”. E nem a Feira de Tradições Nordestinas escapa desse apelidinho. É comum ouvir alguém dizer que foi ou que vai à Feira dos paraíba. E como diria o radialista Mução: Aí dentu, Papai Noel!!! “Paraiba é meu Estado. Eu sou paraibana, com muito orgulho!”.

Eu gosto de ir lá, apesar de achar as coisas meio tumultuadas. Som alto – aliás, sons, porque é uma poluição sonora da mulesta-, gente circulando, vendedor ambulante atraindo a atenção das crianças com balões e bolas de sabão... e em frente aos restaurantes os garçons abordam quem passa com o cardápio na mão. Eu entrei em um deles atraída pela desenvoltura simpática de uma garçonete que disse as palavras mágicas: feijão de corda e carne de sol.

Parecia que tava em casa. Comi com os olhos. Comi com o paladar de quem morre de saudades das suas raízes, do sabor da comidinha de mainha e do cheiro da cozinha da casa de Tio Tavin. Pude até ver Maria servindo a mesa e dizendo: “Come danada. Mata quem tá te matando”. Ô saudade da mulesta! Comi que só a gota!

Saí satisfeira. Continuei andando e dei de cara com uma cena comum no Nordeste. Uma mercearia. Lembrei do poema “Parafuso de cabo de serrote” de Jessier Quirino* que descreve um lugar como aquele com uma riqueza de detalhes impressionante.

(...) “A Segunda vitrine é de pão doce
É tareco, siquilho e cocorote
Broa, solda, bolacha de pacote
Bolo fofo e jaú esfarofado
Um porrete serrado e lapidado
Faz o peso prum março de papel
Se embrulha de tudo a granel
E por dentro se encontra uma gaveta
Donde desembainha-se a caderneta
Do freguês pagador e mais fiel”. (...)

Interessante como as coisas são. Enchi a boca d’água ao ver aquelas coisas e lembrei que quando era criança tinha um abuso tão grande quando chegava a hora do lanche e eu dizia: - Mainha tô com fome. E ela dizia pra eu comer bulacha tareco e beber um suco de alguma fruta típica. Eu queria era tomar Coca-Cola, comer biscoito recheado, que mané tareco que nada.

Pia mermo, eu rejeitando minhas raízes naquele momento. Hoje eu lembro de mainha dizendo: - Vá bichinha, se amostre bem muito. A vida ensina! Um dia você vai aprender a dar valor as coisas. E apôis, e num é que o dia chegou!!!
* Jessier Quirino é paraibano e se define como arquiteto por profissão, poeta por vocação, matuto por convicção. Para conhecer o trabalho dele acesse: www.jessierquirino.com.br

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Beleza imperfeita

Praia de Botafofo/Rj
Foto: Fernanda Lacerda



Curioso como um lugar pode ser palco de tantas contradições. O Rio de Janeiro que nos assusta com suas cenas de violência pela televisão é o mesmo que nos encanta com suas paisagens.

Essa imagem foi registrada num domingo à tarde. Linda. Dispensa qualquer tipo de descrição. Porém, não deu pra evitar de pensar no que tem por trás de tanta beleza. Eu vi um quadro de contradições, de mundos tão diferentes e que ao mesmo tempo se fundem .... e se tornam um só.

O mundo de quem está no ônibus e vê pela janela o descanso dos que curtem a folga do dia num barco. O mundo do motorista de táxi que tem que abrir mão da companhia da família para trabalhar. Dos que andam de carro, dos que andam a pé, dos que moram do outro lado da praia – na famosa Urca -, dos que admiram essa mesma vista que eu, só que lá do alto do Pão-de-açucar.

A cidade maravilhosa é linda, cheia de contradições, mas é linda. Olhei pra ela e me vi, cheia de muitos mundos convivendo com minha essência. O que nem sempre é pacífico. Mas, aí é que está. Imperfeita sim e daí? O importante é saber preservar a beleza.

sábado, 18 de agosto de 2007

Eu tenho uma “second life”



Já li por aqui que não combino muito com coisas “mudernas”. Se bem que eu acho que combinar não é bem o termo adequado. Prefiro afirmar que vejo certas inovações com olhares mais críticos. (risos)

Ultimamente venho pagando mico no ambiente virtual Second Life, a nova febre da internet que reproduz o mundo real em uma realidade 3D. Lá as pessoas são avatares, personagens criados pelos usuários que tentam reproduzir situações e estilos de vida iguais as do lado de cá.

Foi meu espírito curioso que me fez entrar nesse lugar desconhecido. Cheguei lá lisa* e cheia de dúvidas. Consegui fazer um avatar básico, já que não tinha liden - que é como eles chamam o dinheiro -, para comprar roupas. Fiquei sabendo que para ser um avatar completo é preciso comprar inclusive os órgãos sexuais. Paciência!
Calça Jeans, bota, camiseta branca, cabelos vermelhos e lá foi Nandina Pessoa*² para o calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro 3D. Observei as pessoas, os papos, entrei em stands de empresas, que já estão oferecendo seus serviços por lá e aproveitei para dar uma volta pela praia. E foi por pouco que Nandina Pessoa não entra para a vida fácil. Um rapaz ofereceu emprego de dançarina numa boate. Outro a chamou para dar uma volta no conversível dele. Calma aí, sou virtual, mas tenho meus valores. Nada de sair com estranhos ou dançar em boates. Mainha me deserdaria e aí já era Nandina Lacerda. Nem pensar em ter que adotar a personalidade perdida de Nandina Pessoa.

Navegar no Second Life pode ser tão estressante quanto ficar preso num engarrafamento, ou numa fila de banco. A diversão muitas vezes é frustrada pela lentidão e falhas do programa. Mas, uma coisa é certa: esse mundo ainda tem muito que se desenvolver. E eu já estou circulando por lá para ficar antenada com essa realidade que vem despontando no horizonte virtual.
Pago mico, mas fico "muderna"!!!


* Lisa – pessoa sem dinheiro.
*² Para fazer o cadastro no Second Life é preciso criar nome e escolher um sobrenome já definido pelo programa.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Mudernidade II



Dou um doce pra quem disser o que é isso?



Enquanto eu olhava para aquela coisa com cara de “que mulesta é isso?” ouvi uma voz feminina ao meu lado dizendo: - Bom dia senhora, deseja conhecer o Télo? Olhei pra ela e pensei: - Depende, se ele for solteiro, educado, sincero e fiel. Bom, mas sorri e disse apenas: - Quem?



O tal do Télo é mais uma dessas novidades da tecnologia e se trata de um telefone público instalado num ônibus. Mas, não vou ficar fazendo propaganda do bunitinho aí, não. Estou só imaginando a contribuição que ele vai trazer para aqueles momentos de ônibus lotado, pessoas de pé tentando se equilibrar nas tantas curvas e freiadas bruscas e uma daquelas figuras inconvenientes aproveitando a longa viagem para colocar o papo em dia com a mãe, com o amigo, com a avó e por aí vai.



Essa visão mal humorada da chegada do Télo pode até estar sendo injusta da minha parte, mas me remeteu a uma lembrança irritante da infância. E dessa eu sei que muita gente vai lembrar: um quadro humorístico onde dois personagens do Programa A Praça É Nossa sempre saiam na porrada depois de uma série de mal entendidos causados por uma conversa “troncha” de um dos caras num orelhão público.



Até o fim do mês uso do Télo é gratuito. E os usuários podem fazer ligações DDD e locais para fixo ou celular à vontade. E eu já estou me preparando pra voltar a andar na linha integração Metrô novamente e ver o Télo de novo. Deixem seus telefones ligados que a qualquer momento eu posso dar um alô.





* Troncha significa “torta” e nesse caso pode ser entendida como “torta” mesmo.


quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Ideais

Hoje eu fui à pré-estréia do documentário “Memória do Movimento Estudantil”. O filme resgata a participação dos estudantes em importantes momentos da história do Brasil. E ouvindo os depoimentos das pessoas que, no passado, encararam verdadeiras guerras em prol* de ideais democráticos eu percebi uma coisa, no mínimo intrigante.

Alguns líderes do movimento hoje são personalidades de grande destaque no cenário cultural e político do Brasil. E à medida que apareciam na tela recebiam vaias de grupos de estudantes, que volta e meia gritavam em coro frases do hino da UNE (União Nacional dos Estudantes).

Tudo bem que a democracia permite esse tipo de “expressão”. Mas, esse é o ponto em que eu quero chegar. Em que momento de suas vidas, esses personagens que ajudaram a escrever a história da UNE se perderam dos ideais do passado? Da luta pelo bem geral da nação? Porque não são vistos como exemplos?

Apontar o dedo na cara do outro é muito fácil. Então, eu me toquei disso e procurei usar esse exemplo pra mim mesma. Na volta pra casa vim avaliando em que tipo de pessoa os meus ideais estão me transformando. E decidi que vou ficar de olho nisso.

Só se eu fosse doida de preferir vaias ao invés de aplausos.

*Eu adoro essa palavra (rs)

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

A mundiça* acaba de entrar.


Vico
Ju!
Nina!
Dani!
Bia!
Nandina!

Salve! Salve a internet e suas praças virtuais, que reúne os amigos e traz paz e alegria ao coração de quem vive com saudades!!! Morro de rir com eles... e meu riso ataca minha saudade ...

Saudade! Acho que essa é a palavra que eu mais falo na vida. E ela de novo vem marcando presença no coração da andarilha que não esquece suas raízes. Salve! Salve a internet e suas enormes possibilidades de trazer pra perto quem está longe.

E aqui no blog eis que, de repente, até os avessos a internet marcam presença e deixam seus recados – isso é com você Diana!!! A cada comentário, uma surpresa, uma emoção. E a danada da saudade gritando: êita, fulano!! Que massa!! Sinto falta dele (ou dela)!!!

Bom saber que estão todos aí. E que eu continuo no coração de vocês!

Continuem de olho porque vêm mais resgistros por aí!!!

* Mundiça – um grupo de pessoas que fala alto, ao mesmo tempo e não tem um pingo de noção das Leis do silêncio e de boas maneiras.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Mudernidade!




“É o fim dos tempo, minha gente!” Essa era a frase que o hilário e inesquecível Manoel Salviano, meu avô, dizia quando se espantava com alguma coisa moderna demais pra mentalidade 1908 dele. Eu cresci ouvindo isso. E na hora que entrei no banheiro de uma pizzaria aqui no Rio acabei repetindo a famosa frase: É o fim dos tempo, minha gente!!!

Depois de ter passado “mei mundo”* de vergonha pra aprender a usar aquelas torneiras automáticas que funcionam com apenas um toque e outras que têm um sensor que ligam quando a gente simplesmente bota a mão em baixo... aí vem uma dessa. Completei a frase de vô com um sonoro “que mulesta é isso?”

Sim, ok!!! Ok! Pela localização e posicionamento no espaço é uma torneira. Tá bom! Mas, como é que essa danada funciona??? Chamei reforços... não quis pagar mico sozinha. A bicha parece um volante de carro de Fórmula 1.

O caba que criou essa peça tava muito doido no dia que teve tamanha inspiração. Pode crer! Mas, acho que não custava nada ter feito um manualzinho básico apenas dizendo: Para ligar, abaixe a alavanca. Para desligar, suba a alavanca!

E eu pensando que essa danada era o freio!!!!
É o fim dos tempo! Como diria Manoel Salviano!!!
* Expressão paraibana usada para se referir a algo "grande" ou longe.

sábado, 4 de agosto de 2007

Fé!



Taí uma imagem que me chamou a atenção. Essa figura estava num belo dia de domingo aos pés do Cristo Redentor. Ignorado pelos olhares das pessoas que passavam olhando pra cima, encantadas com o tamanho da estátua de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Mas, eu me impressionei mesmo foi com ele... sentado ali “olhando pro tempo*. E aquele crucifixo no peito... nunca vi um tão grande... pelo menos não pendurado num pescoço. Minha vontade era de sentar ao lado desse cara e conhecer sua história e aprender um pouco mais sobre ter fé*². Sim, porque ele deve ter uma fé tão grande quanto a de quem idealizou a estátua do Cristo.

Agora, olhando pra cima... tentei enxergar o Cristo por inteiro. Missão quase que impossível. Ele é muito grande! Quis ver Seu rosto, mas o sol não deixou. Olhei pra baixo de novo e vi a representação simples da fé na minha frente. Então lembrei que não precisava fazer esforço nenhum pra ver Jesus. A sua imagem e semelhança estava sendo refletida ali naquela pessoa ignorada pela multidão.

* Expressão paraibana que quer dizer que o “caba” tava pensando na vida.
*² Se meu amigo-irmão presepeiro e admirador das pessoas, Vico, estivesse comigo nessa hora, tenho certeza que a gente ia sentar ao lado desse cara e bater altos papos.

Janela Indiscreta















Lá se vão sete anos morando longe de casa e eu continuo andando, sem esquecer de avaliar o preço que pago pelas minhas escolhas. E nesse processo “observar o mundo” ganhou uma conotação mais interessante.

Divido um apê pequeno no Rio de Janeiro com duas amigas e em meio as nossas tentativas de deixar tudo organizado e ao mesmo tempo personalizado, “registrei” essa imagem que me remeteu a uma palavra e seus muitos significados: espaço.

Todo mundo que tem um objetivo gosta de dizer “quero conquistar meu espaço no mundo!”. Eu mesma vivo falando. E por esse ângulo registrado na foto eu parei pra pensar no que isso significa no dia-a-dia de gente como eu, que mora numa grande cidade, mas que é obrigado a crescer dentro de “pequenos mundos”.

Por aqui não se vê muito a cara dos vizinhos, mas as peças íntimas estão sempre dando o “ar da graça”. E como diria uma famosa personagem da novela das 20h “cueca maneira, heim!”. Tenho certeza que vou lembrar disso no dia em que encontrar o dono dela no corredor ou no elevador. Se bem que é melhor esquecer pra evitar um riso cínico como se soubesse de algo particular dele. Nada a ver! Deixa o cara! Ele também aproveita como pode o espaço que tem.

Aqui em casa a gente evita secar nossas roupinhas na janela. Esse espaço foi aproveitado para criar um ambiente mais natural. Uma pequena área verde em meio à selva de pedras. Idéia da natureba da casa que está sempre dizendo: “Manjericão é maravilhoso para temperar a comida! E o hortelã é descongestionante. É importante tê-los a mão”.

A única coisa que ela ainda não consegue explicar é como vai ser quando a muda de caju deixar de ser aquela plantinha fofa no canto do jardim e começar a conquistar seu espaço nesse mundinho.

Eu, mesmo achando a idéia meio... aliás, completamente louca...de cara já me identifiquei com o futuro cajueiro. Quando eu quis crescer encontrei várias pessoas no caminho que acharam que eu não ia me desenvolver. Então, nada de podar a futura árvore! Deixa o cara! Vai ser interessante acompanhar ele conquistando o espaço.